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Foto do escritorMárcio Paulo

Gana vai às urnas!

"É importante que a comunidade mundial de investidores continue a acreditar no caráter pacífico e democrático de Gana”[1]


Depois de dois mandatos consecutivos do seu atual presidente, os mais de 18 milhões de ganeses vão às urnas para escolher seu novo representante e seu novo governo. As eleições em Gana têm como principal pano de fundo a sua economia, que está em processo de cura a passos curtos e lentos depois de tomar por empréstimo 3 milhões de dólares junto ao FMI, para fazer a sua recuperação.


Gana é o maior produtor de ouro em África, mas tem em seu histórico recente vários problemas com o seu comando desde a sua independência; o país é assolado por tentativas de rupturas na sua ordem civil, dois dos principais partidos que disputam as eleições se alternam no poder: Novo Partido Patriótico (NPP) e o Congresso Nacional Democrático (NDC), em constante alternância desde 1992.


Os ganeses foram às urnas no último sábado, 7, com o vice-presidente Mahamudu Bawumia, do partido no poder NPP, e o ex-presidente John Mahama, da oposição (NDC), estando entre os mais bem colocados entre os candidatos à presidência.


As dificuldades econômicas de Gana é o principal assunto do país, maior produtor africano de ouro, e um dos maiores produtores de cacau da África Ocidental, tem sofrido com uma inflação elevada e o descumprimento de uma dívida de 3 milhões de dólares com o FMI.


Os eleitores foram escolher o sucessor do presidente Nana Akufo-Addo, que deixa o cargo após dois mandatos de quatro anos, e elegem um novo parlamento no país.


A ida às urnas, ao que tudo indica, foi um tanto quanto lenta em algumas zonas da capital, Accra, e estável em outras regiões, não houve registros de grandes incidentes ou distúrbios locais.


“Queremos votar pela mudança, a situação económica é muito difícil”, disse o policial reformado James Nsiah, à espera de votar numa cabina na zona de Jamestown, em Accra.


A votação terminou às 17h:00 do horário local e a contagem foi feita de forma imediata, os primeiros resultados devem aparecer no domingo e a contagem completa deve acontecer até a próxima terça-feira, 10/12. 


Com um histórico de estabilidade política, com os dois principais partidos de Gana no poder desde o retorno da democracia multipartidária em 1992, as eleições costumam ser acirradas.


Com o slogan “Break the 8” em tradução livre “Quebre os 8”, faz referência aos habituais dois mandatos de quatro anos no poder, o NPP espera que Bawumia possa levar mais um mandato, o que nunca aconteceu desde 1992, haja visto a alternância no poder que citamos. 


Porém, Bawumia enfrenta resistência e tenta fugir das críticas ao desempenho econômico do atual presidente.


Vestindo uma bata branca tradicional, Bawumia votou no sábado cedo em sua cidade natal de Walewale, no norte do Gana. “Estou muito esperançado em ganhar esta eleição”, disse aos jornalistas, e completou: “penso que trabalhamos muito com a nossa mensagem para as pessoas e a mensagem foi bem recebida.”


Aprofundando as Eleições


O NDC mostra com orgulho que é um partido social-democrata, enquanto o NPP, no poder atualmente, se autointitula como mais inclinado a direita, mas analisando os programas de governo é possível perceber poucas diferenças entre as propostas, ambos vão a um discurso mais comum dentro do continente africano, de conter gastos e de frear a corrupção a qualquer custo, mas não é bem isso a ser visto em outros países.


Duzentos e setenta e seis membros serão eleitos para o parlamento, o partido governista NPP e o seu principal opositor NDC tem hoje cada um 137 membros na legislatura atual, com um membro independente que tem votado junto com o governo, e nessas eleições mais um distrito foi adicionado, por isso serão 276 deputados eleitos.


Nos últimos esforços de campanha na quinta-feira passada, ambos candidatos fizeram campanhas para apresentar seus partidos e as respostas aos problemas econômicos de Gana.


Bawumia, de 61 anos, economista formado em Oxford e ex-vice governador do banco central do país, prometeu dar continuidade aos esforços do governo e estabilizar a economia.


Já Mahama, de 65 anos, colocou sua promessa de reiniciar o país em vários pontos, redefinir a democracia, governo, economia, finanças, agricultura e infraestrutura e outros campos do país.


Desafios para o próximo governo


Um dos principais é a mineração ilegal de ouro, conhecida como Galamsey[2], essa questão foi levantada na campanha como parte da preocupação do novo governo, pois tem sido uma pauta levantada pelos eleitores de forma rotineira.


As atividades ilegais foram acirradas devido a falta de empregos, ganeses de todas idades têm recorrido ao trabalho na mineração, e essa prática tem deteriorado os rios e o meio ambiente.


O novo governo


O próximo mandatário do país precisará lidar com as instabilidades políticas devido a economia cada vez mais justa, com uma inflação beirando os 45% e espremendo a moeda local e fazendo perder créditos no mercado interno e externo, também a questão da mineração e a geração de empregos, tudo isso precisa ser resolvido de forma efetiva. Cada vez mais no continente africano as redes sociais tem sido aliada das manifestações públicas.


Sobre o descontentamento dos governos, assim foi com a Nigéria, Quênia, Moçambique e outros países, é necessário mais do que nunca de ações concretas e a montagem de um governo que dialogue diretamente com o parlamento e que tenha tração para que passe a caminhar a sua economia, que até o momento é mais lenta que uma tartaruga atravessando uma pista dupla.


Logicamente que com o passar dos dias volto para atualizar os números das eleições ganesas, tanto aqui na revista, quanto no podcast “Ponta de Lança” ambos os lugares farei a cobertura dessa virada de ano para que joguemos luz em nosso conhecimento sobre África.


ATUALIZAÇÃO 10/12


Mahama é eleito e reassume a presidência de Gana.


O antigo presidente do Gana, John Damani Mahama, conseguiu voltar ao cargo que lhe pertenceu de 2012 a 2017 ao vencer as eleições presidenciais do país da África Ocidental. O vice-presidente Mahamudu Bawumia, o seu rival, admitiu a derrota este domingo, avança a Reuters[3].


Durante uma conferência de imprensa realizada em sua residência, Bawumia afirmou ter ligado a Mahama para parabenizá-lo, acrescentando que o Congresso Nacional Democrático (NDC), partido de Mahama, também saiu vitorioso:

“Permitam-me que diga que os dados da nossa própria comparação interna dos resultados eleitorais indicam que o antigo Presidente John Dramani Mahama ganhou as eleições presidenciais de forma decisiva. O NDC também ganhou as eleições parlamentares. Apesar de estarmos a aguardar o apuramento final de um certo número de lugares, creio que, em última análise, estes não irão alterar o resultado”, afirmou Bawumia.

“É importante que a comunidade mundial de investidores continue a acreditar no caráter pacífico e democrático do Gana. O povo votou pela mudança nesta altura e nós respeitamos essa decisão com toda a humildade", concluiu o atual vice-presidente.

 

*Márcio Paulo é comunicador e pesquisador, membro da Clio Operária e do Ponta de Lança podcast, pesquisador sobre música e cultura no continente africano e sua diáspora.


Referências



[2] Galamsey refere-se à mineração ilegal de ouro em pequena escala em Gana . O termo é derivado da frase em inglês "gather them and sell". Historicamente, galamsey referia-se às práticas tradicionais de mineração em pequena escala em Gana, onde as comunidades locais se reuniam e procuravam ouro em rios e córregos.








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