An African-American Call: Revolutionary Nationalism in the Black Panther Party and Analysis of Early Publications in The Black Panther (1967).
Ellen Maria Silva de Oliveira
João Damaceno de Almeida Neto
Maria Antônia Delbons Tâmega Soares
Nicole Fidêncio de Andrade
Verônica Brum Marques
The Black Panthers: Vanguard of the Revolution, documentário de 2015, conta a história do movimento revolucionário estadunidense - Reprodução
Resumo
O presente trabalho visou analisar as duas primeiras edições do Jornal do Partido dos Panteras Negras (1966 - 1982) ao entender sua significativa relevância na luta pelos direitos econômicos e sociais da população negra norte-americana, enquanto a primeira organização revolucionária afro-americana da história dos EUA. Valendo-se do instrumental teórico metodológico de análise de fontes de autores como Barros (2022) e Luca (2022), bem como da operacionalização de conceitos como: Nova Esquerda, Contracultura e Nacionalismo Revolucionário que falam sobre a nova dinâmica do tecido social que estava se constituindo.
Palavras-chave: Panteras Negras; Jornal e Nacionalismo Revolucionário.
Introdução
Em Black Nationalism in American Politics (2001), Dean Robinson nos mostra argumentos que apoiaram um nacionalismo negro nos Estados Unidos desde o século XIX, em diferentes vertentes, de Marcus Garvey, a Nação do Islã ao Partido Pantera Negra. Foi no Partido Pantera Negra que o nacionalismo com viés socialista se destacou para todo mundo, a fim de derrotar o capitalismo nos Estados Unidos, o partido por meio de suas plataformas expostas em seu jornal atraiu atenção internacional, um chamado afro americano. Tendo como embasamento teórico de historiadores e sociólogos, ao longo das páginas seguintes, o presente trabalho analisará o primeiro e o segundo número do jornal do Partido Pantera Negra para Autodefesa [BPP (1966-1982)], o The Black Panther. Contudo, a fim de se situar o presente leitor na dinâmica do tecido social e do contexto histórico em que o Partido Pantera Negra estava inserido, o presente trabalho irá estabelecer em um primeiro momento alguns conceitos-chave que segundo Van Gosse (2015) e Vinícius Novaes Ricardo (2021), que explicam a transição e o que se poderia denominar como espírito do tempo dos anos 1960-1970. São eles os conceitos de Nova Esquerda, Contracultura e Nacionalismo Revolucionário.
Neste sentido, pode-se afirmar segundo Van Gosse (2015) que o conceito de Nova e Esquerda deve ser entendido como um conceito amplo que tem como elemento comum o direito à ampla cidadania de todos nos Estados Unidos da América que teve como elemento aglutinador a luta pelos direitos civis dos afros americanos que serviu como um fenômeno de grande inspiração para outros movimentos sociais que viriam surgir e reivindicar seu lugar ao sol. Desta forma, segundo o autor, o entendimento da dita nova esquerda requer a compreensão daquilo que Malcolm X - autor que vai influenciar de forma profunda e significativa o BPP - chamava dos limites da democracia liberal que existiam durante a maior parte da história dos Estados Unidos, e que tinha como seus marcadores as categorias gênero, classe e raça. Assim, a Nova Esquerda diz respeito à participação de novos agentes e consequentemente a produção de outra forma de cultura, uma Contracultura. Nesse sentido, a Contracultura se constituirá quase como um produto dessa atmosfera que está posta de contraposição às instituições tradicionais e a ideia de um modelo único do que é o ser americano. Ademais, cabe ainda ressaltar, como muito bem salienta em seu trabalho Van Gosse (2015) que essa dita Nova Esquerda e a Contracultura estão sendo gestadas em grande medida dentro das universidades americanas. O que pode ser observado, ao se levar em consideração que os dois fundadores do Partido dos Panteras Negras, Bobby Seale e Huey Newton eram dois jovens negros estudantes de direito que vão utilizar do seu prévio conhecimento legal das prerrogativas constitucionais dos EUA para defender seus interesses na cidade de Oakland, no estado da California.
Por fim, o conceito de Nacionalismo Revolucionário diz respeito à concepção de luta e organização pela qual o BPP empreendeu uma luta revolucionária segundo as concepções propostas pelo marxismo-leninismo. Segundo Ricardo (2021) em meio aos diversos grupos que se formaram e as propostas de atuação, forma de organização e combate ao racismo nos Estados Unidos, será através da concepção Nacionalismo Revolucionário que o Partido dos Panteras Negras irá se fundamentar.
Em vista da importância e capilaridade do nacionalismo negro no pensamento político do movimento negro estadunidense da segunda metade do século XX, diversos grupos desenvolveram propostas de ação para atuar na luta antirracista. Dentre essas, duas concepções de aplicação do nacionalismo negro destacaram-se durante os anos 1960 e 1970: o nacionalismo cultural, representado por Maulana Karenga e a US Organization, que almejou uma “revolução cultural” (BROWN, 2003, p.23) como forma de pavimentação do processo de libertação negra; e o nacionalismo revolucionário, representado pelo Partido Pantera Negra, que endossava que os objetivos propostos pelo nacionalismo negro só seriam alcançados se fosse empreendida uma luta revolucionária segundo as concepções propostas pelo marxismo-leninismo (RICARDO, 2021, p 528).
Durante os anos de 1960 e 1970, entraram em destaque duas concepções do nacionalismo negro: nacionalismo cultural e nacionalismo revolucionário. O primeiro nacionalismo, que visava uma “revolução cultural”, não será desenvolvida na presente pesquisa, apenas compreendia com a concepção criticada pelo partido, pois, segundos estes, o nacionalismo cultural permitia que a burguesia negra explorasse os afro-americanos e os pobres, sendo promotores do capitalismo negro. Em contrapartida, o nacionalismo revolucionário acreditava em uma luta revolucionária por meio das concepções propostas do marxismo-leninismo, com a defesa sendo o único caminho para a auto libertação, uma articulação do antirracismo e anticapitalismo. Compreendendo esse conceito, ele ainda aglomerava a necessidade de uma arte e educação revolucionárias. Os artistas também deveriam ser agentes da transformação, e vinculados a um processo educativo, para a formação do indivíduo para a luta política. Tal concepção dos artistas foi descrita por Emory Douglas - Ministro da Cultura - como artista revolucionário.
Primeira Publicação
No presente artigo analisaremos o primeiro e segundo número do jornal The Black Panther e discutiremos também quem eram os Panteras Negras e sua atuação. Analisando o primeiro volume do primeiro número onde com o título “Por que Denzil Dowell foi morto?” observamos o contexto e como era a vida que a comunidade negra tinha e também podemos ver como a violência policial estava presente no cotidiano das comunidades afro americana. O primeiro número do jornal tem como base o assassinato de um jovem preto chamado Denzil Dowell que foi morto sob violência policial. A morte do jovem aconteceu em 1 de abril de 1967 e o jornal foi publicado em 25 de abril do mesmo ano, mostrando a urgência em publicar um jornal que expressasse as reais circunstâncias de sua morte. Um fator analisado da publicação foi que, diferentemente de um jornal cujo nome não foi citado, mas que trouxe apenas o lado dos policiais, o The Black Panther expôs tudo como exatamente aconteceu e com relatos confiáveis, sem esconder informações, ou seja, existe uma disputa de narrativa. O jornal dos Panteras visou expor as várias questões sem respostas - que foram negligenciadas por outros jornais da época - trazidas pelos próprios familiares e vizinhos de Denzil Dowell e traz a átona as inconsistências nos relatos policiais e o que realmente aconteceu no dia de sua morte.
(Imagem da segunda página do The Black Panther, v.1, n.1., publicada pela primeira vez em 1967)
Na imagem acima, identificam-se alguns questionamentos que o partido trouxe em seu periódico, em que mostram as incoerências por trás do assassinado de Dowell e o que foi declarado pelo departamento de polícia. O primeiro questionamento, que não aparece na imagem, aponta que Dowell estava desarmado, então como os 6 buracos de bala seriam considerados homicídio justificável? Os questionamentos levantados pelo jornal demonstram o total descaso com o qual foi tratado o caso de Dowell e não só o caso dele, como de inúmeros outros casos em que pessoas pretas, independentemente de sua idade, foram agredidas ou mortas por policiais. O próprio jornal nos mostra essas outras vítimas, como pode se ver na primeira imagem referente a página dois do jornal. Nela mencionam o assassinato de dois irmãos pretos uma semana antes do último natal no mesmo lugar em que Dowell foi morto em North Richmond.
A morte de Denzil Dowell foi homicídio, um crime que a polícia e a mídia tentaram ocultar. As evidências e as testemunhas nos mostram que a morte de Dowell foi assassinato e que a polícia mentiu sobre as circunstâncias que levaram a sua morte, a mídia também colaborou para a propagação da alegação de morte justificada de Denzil Dowell. O jornal The Black Panther não cita o nome, mas menciona que um jornal local deu a declaração de que foi homicídio justificável antes do veredito como visto no ponto 10. Tal veiculação de um jornal propenso a disseminar mentiras mostra a necessidade de um jornal voltado para o público preto. Um jornal não apenas para informar das mortes dos seus, mas também para organizar a comunidade preta a se juntarem para a luta e se defenderem por eles próprios, já que a polícia não era confiável, como era o objetivo principal do Partido Pantera Negra desde a sua fundação, como bem coloca o autor Vinícius Novaes Ricardo:
O Partido Pantera Negra Pela Autodefesa surgiu com o objetivo de patrulhar as ruas contra a atividade truculenta e ilegal da polícia. A estratégia consistia em acompanhar as incursões policiais nos bairros pobres e com habitantes negros para assegurar os direitos das pessoas que fossem abordadas e, se necessário fosse, intervir em situações de violência, sobretudo quando não houvesse justificativa legal para sua utilização (RICARDO, 2021, p. 527).
O Partido Pantera Negra tinha como público-alvo com essa primeira edição aqueles que estavam na comunidade em que Denzil Dowell foi morto, North Richmond, porém o objetivo era ir mais longe. O partido queria mostrar a violência e os abusos que os afro-americanos sofriam diariamente da polícia, queriam expor o racismo, e aumentar a difusão do jornal para além das comunidades negras. Eles tinham ciência que para terem força para lutar os pretos deveriam se organizar e o jornal possibilitava alcançar o público além de poderem dar informação para a população preta do que estava acontecendo dentro de suas próprias comunidades. Ao final do jornal percebe-se claramente isso no chamado para se reunirem, revidarem, para não temerem, pois a única maneira de enfrentarem o medo que o homem branco incutiu nas comunidades negras é enfrentando e “levantar-se e olhar nos olhos azuis do homem branco” (NAPIER, 1967. p.4).
É interessante observar que ao longo do jornal a expressão pigs costumeiramente usada para se referir aos policiais não é usada. A expressão é usada muitas vezes pelos Panteras nos seus jornais e frequentemente vista na arte revolucionária de Emory Douglas. A definição de pigs é usada pelos Panteras como “[...] aquele animal incapaz de respeitar a lei, a justiça e os direitos do povo, que morde a mão que o alimenta e que geralmente se apresenta como vítima de um ataque não provocado." (SAMYN,2018 p.47) os pigs não eram somente os policiais eram os políticos, capitalistas e os racistas, todos aqueles que de alguma maneira eram favorecidos pelas estruturas que oprimem os negros. Nas artes de Emory Douglas vemos os pigs com roupas de policiais se acovardando, com medo dos pretos que se levantam contra aqueles que os perseguem. A arte revolucionária foi usada em alguns dos volumes do jornal do The Black Panther, ela também foi usada para reproduzir a mensagem dos Panteras Negras a parte da população que não eram alfabetizadas, dessa forma os Panteras alcançaram uma parte maior da população negra, pois quanto mais pessoas atreladas a causa mais visibilidade teriam.
(arte de Emory Douglas The Black Panther, v.4 1970)
Ao longo do jornal há apenas um momento em que eles usam uma expressão para se referirem aos policiais de maneira pejorativa “Dog cops”. O uso de termos como racismo e “Dog cops” mostra que apesar de não usarem a costumeira expressão pigs, que é visto em várias artes revolucionárias, os Panteras Negras não temiam em enfrentarem a polícia ao chamá-la de racista e criticarem a sua conduta abertamente em seu jornal. Isso só reafirma qual era a posição dos Panteras Negras em relação a polícia, tolerância zero para seus abusos e violência desmedida contra os afro-americanos.
Segunda publicação
O segundo número de The Black Panther, publicado em 15 de Maio de 1967, intitulado como “A verdade sobre Sacramento”, com o dobro de páginas em relação ao primeiro número, com uma diferença gritante entre ambos, especialmente pela nova publicação trazer novas características marcantes para o periódico e “se o primeiro número enfatizava - e grifava - que os negros deveriam se armar para autodefesa, dois meses depois o próprio Newton já enfatizava a importância das armas como ferramenta básica de libertação” (SAMYN, 2018, p. 32). Um dos principais objetivos deste número é tratar sobre o ocorrido em Sacramento, como tratado por Ricardo (2021), que o cerne da atividade do partido era o policiamento da polícia até 1967, quando foi aprovado o Mulford Act, diversas alterações legislativas do estado da Califórnia institucionalizando a exclusividade do porte em público de armas municiadas para as forças policiadas, permitindo que os Panteras portassem suas armas apenas se elas estivessem sem que estivessem carregadas.
Tendo recebido a notícia de que Mulford estava prestes a aprovar a lei que restringiria o porte de armas, no dia 2 de de maio de 1967 o Partido Pantera Negra enviou uma caravana de carros para Sacramento; (...) Os Panteras Negras seguiram em marcha, exibindo as armas, até a Câmara da Assembleia de Sacramento. (...) (guardas) começaram a imobilizar os Panteras Negras, que os confrontaram: por que estavam sendo presos, se nenhuma lei fora violada? Ainda dentro da Assembleia, Bobby Seale leu o mandato executivo escrito por Huey Newton: o texto acusava de racismo a proposta de lei que proibia o porte de armas carregadas; além disso, afirmava que chegara a hora de o povo preto se armar contra o terror. (SAMYN, 2018, p. 35).
Após os Panteras serem imobilizados, todos eles, com exceção das mulheres, foram detidos. Porém, mesmo assim, eles no próprio jornal, em um texto do capitão Warren Tucker, declararam orgulho do seu feito, o sentimento de união e a chegada em seu objetivo de enviar sua mensagem para todos os Estados Unidos da América. O impacto do acontecimento em Sacramento foi tão grande que, por meio dele, os Panteras conseguiram se expandir para alcançar a mídia e terem notoriedade internacional. Tudo isso possível para uma grande arrecadação de dinheiro para pagar as fianças dos 24 Panteras que foram encarcerados. Sobre esta arrecadação para as fianças, é possível perceber que, a partir da segunda publicação do jornal, há uma preocupação sobre o dinheiro, começam a divulgar valores para terem publicidades no periódico, e fazem declarações sobre a importância de a comunidade negra contribuir para a luta com doações. No jornal ainda é exposto um pronunciamento do Ministro da Defesa do partido, Huey P. Newton, sobre o ocorrido, este declarou que os Panteras fizeram os policiais que tentaram tirar a arma deles de bobos e sofreram uma humilhação ao terem que devolvê-las. Chamando os policiais de burros e que não sabiam suas próprias leis e fizeram uma prisão falsa.
Os Panteras declaram como os policiais brancos racistas não seguem o seu dever, como eles não estão cumprindo sua função de servir ao povo igualmente, manter a paz e proteção de todos e, com isso, se tornam o inimigo número 1 da comunidade. Isso ocorre quando há uma divisão entre os interesses do povo e o da polícia. A partir de todo esse acontecimento, uma conclusão gerada pelo partido foi de que a aparição dos homens pretos armados na capital demonstrou que tais não são mais regidos pelo medo, e além de estarem prontos para morrer, também estariam prontos para matar. Existem outros pontos marcantes e cruciais que foram postos no jornal. O primeiro deles é um quadro, que depois é sempre posto e destacado nas publicações, chamado de “What we want now! What we believe” em que são colocadas o que o partido quer e no que acreditam.
(Imagem retirada da página 3 do segundo número de The Black Panther, publicado pela primeira vez em Maio de 1967)
Na imagem identifica-se todas as reivindicações do partido; como, por exemplo, a liberdade de escolha do destino da comunidade negra; emprego para o povo; fim da brutalidade policial e assassinato de homens afro-americanos. Junto do que eles querem, tem o que acreditam, como que a população afro-americana apenas se tornará livre quando escolher o seu próprio destino; um sistema educacional em que permitirá que o homem negro tenha autoconhecimento; que toda os negros que estejam na cadeia sejam livres, pois não acreditam que esses tenham tido um julgamento correto. Outro ponto importante deste número (2) é uma coluna que traz uma entrevista com George Dowell, irmão de Denzil Dowell. Durante as respostas, ele declara seu interesse por trás de entrar no partido, e também assume ter sido um dos participantes a participarem de Sacramento. Ele aponta razões de como ele se sentiu incluído, de como os Panteras promoviam realmente a ajuda e que ele vem juntando dinheiro para contribuir na luta. É interessante analisar a presença dessa entrevista como um instrumento de mostrar para a comunidade a aceitação em novos integrantes, especialmente de um que teve um caso familiar exposto no primeiro jornal, e uma busca imparável pela justiça.
(Foto de Huey Newton, co-fundador do partido e como Ministro da Defesa do Partido Panteras Negras, e publicado pela primeira vez em The Black Panther, v.1, n.2.)
O fundador do Partido Pantera Negra é visto de frente, com uma postura desafiadora, sentado em uma cadeira entre escudos africanos, segurando em uma das mãos uma espingarda e, na outra, uma lança. A imagem se tornaria icônica, figurando a transferência do nacionalismo cultural do passado, cuja representação era a lança, para a cultura revolucionária do futuro, representada pela espingarda. Não obstante, do ponto de vista do próprio Huey Newton, o mais importante eram os escudos - que ele via como uma invenção das pessoas para se defender da lança, criada para aterrorizá-las; desse modo, o escudo era um símbolo do Partido Pantera Negra, concebido para proteger o povo preto contra o imperialismo e contra o racismo (SAMYN, 2018, p. 38).
Esta foto apresentada, foi posta na página 4 da obra analisada e tornou-se uma das mais famosas do periódico. Uma fotografia tirada por um fotógrafo branco e comandado por Eldridge Cleaver, com todo seu trabalho e objetivo endossando a figura do artista revolucionário, isto é, ‘um sujeito que não se limitava em expressar artisticamente o pensamento revolucionário e atuava enquanto um participante ativo da construção da revolução, aspecto paradigmático das obras de arte produzidas por este” (RICARDO, 2021, p. 541).
(Imagem retirada da página 5 do segundo número de The Black Panther, publicado pela primeira vez em m aio de 1967)
Por fim, o último tópico necessário a ser analisado dessa edição do jornal, é a coluna chamada “Advogado de bolso de primeiros socorros legais”, que evidencia um propósito de manter a comunidade negra atenta aos seus direitos. Junto disso, eles expõem diversas maneiras legais para, em caso de abordagem policial, os pretos conseguirem reagir, sob uma consciência de todos seus direitos e como conseguirem advogados. Esse segundo jornal se demonstra muito mais expandido que o primeiro, aqui os Panteras buscam envolver mais toda a comunidade afro-americana na luta contra o racismo, especificamente o policial, e mostrando diversos meios de como tais conseguem contribuir, como, por exemplo, em doações de dinheiro, e alertar a comunidade dos seus direitos para se protegerem e não aceitarem mais abusos dos racistas. Outro elemento marcante que está presente ao longo das páginas, mais precisamente nas páginas finais do jornal, é o ato ou efeito de denúncia da violência e opressão policial e a necessidade, a urgência da organização de todos os que se solidarizam e se identificam com o que está posto. Bem como, às constantes referências que os redatores do jornal fazem às prerrogativas de seus direitos constitucionais como: A liberdade de Expressão, o Direito de Reunir-se Pacificamente e o Direito de Portar Armas para se defenderem. Assim como o apelo para os leitores da adoção de seu programa como forma de se organizarem coletivamente a fim de fazer frente a uma sociedade racista e a estruturas de opressão ao nível político e econômico.
Conclusão
Em conclusão, o presente trabalho visou demonstrar através dos dois primeiros números do jornal The Black Panther, como o Partido Pantera Negra pôde instalar sua divulgação e expandir sua luta, de início para a comunidade afro-americana da Califórnia - ao expor o caso de Denzil Dowell na primeira publicação - e depois para uma ação de nível internacional, abordando-a na segunda publicação. Ao comparar ambos os números do jornal, é possível perceber uma evolução entre eles, juntamente com uma definição maior de como abordar outros assuntos na própria publicação, e a organização de novas colunas. Como já abordado, no segundo número há um novo quadro onde o Partido reivindica suas vontades e crenças, que serão sempre reforçadas em abordagens futuras. Também vale ressaltar que, desde o primeiro número, eles sempre buscaram deixar claro a repulsa pelo trabalho policial racista, pela estrutura racista e como esses policiais seguiram um caminho totalmente diferente do que deveria ser o dever deles. Assim, o Partido Pantera Negra fez um papel de extrema importância para a luta do movimento negro, e em consequência, para todas as lutas sociais dos Estados Unidos, e nunca se escondeu ao reivindicar seus direitos e de toda sua comunidade. Sendo um exemplo de como divulgar sua luta e usar os meios midiáticos ao seu favor, se expandindo além dos Estados Unidos e sendo uma grande referência até os dias atuais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARROS, J. D’Assunção. O Projeto de Pesquisa em História. 7. ed. Petrópolis: Vozes, 2011.
LUCA, Tania Regina de. Práticas de pesquisa em História. São Paulo: Contexto, 2022.
NAPIER, Sam. Por que Denzil Dowell foi morto?. The Black Panther, Oakland, 25 de abril de 1967. Disponível em: https://circuito.ubueditora.com.br/jornal-black-panther/
NAPIER, Sam. The truth about Sacramento. The Black Panther, Oakland, 15 de maio de 1967. Disponível: https://www.marxists.org/history/usa/pubs/black-panther/01n02-May%2015%201967.pdf
RICARDO, Vinícius Novaes. Circular para educar: o conceito de nacionalismo revolucionário e as práticas de mediação no jornal The Black Panther (1967 - 1970). Temporalidades, Minas Gerais, v. 13, n. 1.p. (526 - 547), fevereiro, 2021. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/temporalidades/article/view/26390.
ROBINSON, Dean E. Black Nationalism in American Politics and Thought. Cambridge: Cambridge University Press, 2001. p. 34-69
SAMYN, Henrique Marques. Por uma revolução antirracista: uma antologia de textos dos Panteras Negras (1968 -1971). (Ed) 2018.
GOSSE, Van. The Movements of the new left 1950-1975. Palgrave Macmillan, 2005.
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